sábado, 16 de fevereiro de 2013

Blue Moon

Liguei o toca discos. Na agulha, The Marcels soava aos meus ouvidos Blue Moon. A janela aberta com a brisa acariciando o meu rosto me fez balancear pela sala escura. O reflexo da lua sobre a taça de vinho, o silêncio da madrugada, e o frio, que sempre me serviu de inspiração para os escritos. 

A velha máquina de escrever doada pela minha bisavó e passada de geração a geração chegou a minhas mãos ano passado. Ela me dava à sensação de satisfação e prazer por escrever. Não sei se pelo barulho das teclas ou apenas por visualizar o texto sendo produzido e criando vida no papel. Nunca a trocara por nenhum computador, apesar de ter que redigitar todo o texto depois de pronto. O trabalho era árduo, mas recompensado. 

A lanterninha de cabeceira, posta bem ao lado da máquina, iluminava apenas as letras que eu ia lapidando até as transformar em frases, parágrafos e capítulos. A cadeira, com um acolchoado confortável, era apropriada para mim, que passava horas e horas rascunhando, fazendo bolinhas de papel e jogando-as no lixo até conseguir um texto que considerasse pelo menos digno de uma revisão. Sentei-me ali, e comecei o meu trabalho: Escrever.

Há quem julgue ser um trabalho simples, sem maiores complicações. Só quem escreve de fato, sabe como é difícil fazer uma ideia ser expressa de forma clara e objetiva para o leitor.

O escritor é um verdadeiro malabarista das palavras. O malabarista tem que usar de artifícios para que seu espetáculo não saia de cena. Da mesma forma, o escritor não pode deixar que seu texto perca o sentido de existir. 

Ali, meus pensamentos viajaram. Quando dei por mim, minhas mãos trabalhavam na intensidade da ideia que pretendia expor. A inspiração e o barulho das teclas foram me encorajando.  Já era manhã, o sol despertava a cidade adormecida. Os raios já iluminavam as janelas do quarto.

Caminhei até a cozinha, fiz um café esperto, sentei-me na varanda e me deixei invadir pela cafeína. Uma ducha, uma torrada velha e um gosto de creme dental. Peguei o texto da madrugada passada e o levei para a redação.

 À noite, após mais um dia de trabalho no jornal, a máquina de escrever da minha bisavó me esperaria junto com o velho blues e aquela taça de vinho para mais uma noite de espetáculo junto á lua e o silêncio.




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